domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha



O filme conta a história de Raquel Pacheco, garota de programa que ficou famosa e... a menos que estivesse numa ilha deserta nos últimos anos, acho que você conhece a história, então vou pular o resumo.
Fui à sessão de “Bruna Surfistinha” aberto a qualquer coisa, sem preconceitos de nenhuma espécie, sem esperar que fosse bom, ou ruim, e é mediano. Inicialmente o filme falha ao tentar demonstrar qual teria sido a motivação de Raquel para fugir de casa e se tornar uma garota de programa. O que vemos é que ela não tem uma boa relação com a família (?) e que é deslocada na escola, mas nada que justifique tal atitude, mesmo que ela repita que queria ser independente durante todo o tempo.
Num segundo momento, ao enfocar na vida de Raquel como prostituta, e sua transformação gradual em Bruna, é onde o filme brilha. Engraçado, chocante, desconcertante, e claro no que se propõe. (Perceba a cena em que diretor estreante Marcus Baldini opta por mostrar vários clientes seguidos, através de um travelling. Ao mesmo tempo em que é cômica pelos tipos esquisitos, realista com as sujeiras no chão, e elucidativa por mostrar a rotina sem cortes aparentes, nos dando a impressão que eram atendidos um logo após do outro.) Mais tarde, com o advento do blog, gadjets são inseridos na tela, com observações e cotações para os clientes atendidos, encaixa perfeitamente.
No campo das atuações, Deborah Secco mostra uma entrega à personagem, deixando o pudor de lado, com cenas se sexo quase explícito (sim, se você espera um filme sobre prostituta sem cenas fortes de sexo, nem se dê ao trabalho), uma beleza monumental e uma ótima atuação. Fabiula Nascimento e Drica Moraes são os destaques dos coadjuvantes, roubando as cenas em que aparecem.  
No 3º ato, tudo o que se construiu ao longo do filme é jogado no lixo. Na tentativa de encontrar um ápice para o final, não convence e se mostra inverossímil em muitos momentos, não nos apresenta o tal homem que a tirou deste mundo e encerra com uma cena bobinha, querendo ser tocante. A sensação que se tem ao sair da sala de cinema é de decepção, pensando: “estava indo tão bem...”.

Bruna Surfistinha *** 6,0
Bruna Surfistinha, Brasil
Marcus Baldini, 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Apostas para o Oscar 2011 - Vencedores


Acertei 16 dos 21 palpites

MELHOR FILME: O Discurso do Rei
MELHOR DIRETOR: David Fincher | A Rede Social - Tom Hooper | O Discurso do Rei
MELHOR ATOR: Colin Firth | o Discurso do Rei
MELHOR ATRIZ: Natalie Portman | Cisne Negro
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Christian Bale | O Vencedor
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Melissa Leo | O Vencedor
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: O Discurso do Rei
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: A Rede Social
MELHOR MONTAGEM: A Rede Social
MELHOR FOTOGRAFIA: Bravura Indômita - A Origem
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: A Origem - Alice no País das Maravilhas
MELHOR FIGURINO: O Discurso do Rei - Alice no País das Maravilhas
MELHOR TRILHA SONORA: A Origem - A Rede Social
MELHOR CANÇÃO: We Belong Together | Toy Story 3
MELHOR MAQUIAGEM: O Lobisomem
MELHOR EDIÇÃO DE SOM: A Origem
MELHOR MIXAGEM DE SOM: A Origem
MELHORES EFEITOS VISUAIS: A Origem
MELHOR ANIMAÇÃO: Toy Story 3
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Trabalho Interno
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: Em um Mundo Melhor | Dinamarca

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lixo Extraordinário

Se Pedro Bial pudesse lhe dar um conselho para vida, seria: “Use filtro solar”. Se eu pudesse lhe dar um conselho para a sua próxima semana de vida, seria: Vá assistir Lixo Extraordinário! Filmado ao longo de  pouco mais de dois anos – 2007 a 2009 – o documentário, indicado ao Oscar de 2011, acompanha Vik Muniz, artista plástico brasileiro com grande reconhecimento fora do país, que resolve fazer um trabalho envolvendo o maior aterro sanitário da América Latina, localizado no Rio de Janeiro. A proposta de Muniz é transformar lixo em arte, utilizando ajuda dos trabalhadores locais, divulgando assim a vida dos catadores como forma de devolver um pouco para a sociedade, todo o sucesso que alcançou.
Dispense os preconceitos. Não é um documentário chato. Não é um longa que agradará apenas os intelectualmente superiores, seja lá o que isso queira dizer. E não, não é um filme sobre lixo, mas sobre pessoas e sobre arte. Lixo Extraordinário é lindo, esbanja brasilidade e deveria ser obrigatório.
Aos poucos, vamos conhecendo melhor este grande artista e as pessoas que encontra no caminho, e como não se encantar e se surpreender com Zeus e Tião, catadores que discutem Nietzsche e Maquiavel? Isso mesmo, livros encontrados no lixão são lidos, e pasmem, entendidos. Oportunidade dada às pessoas erradas? Quem sabe... Como não se emocionar com um senhor de idade “sem primeiro nem segundo grau” como ele diz, dando uma aula de conscientização e meio ambiente, algo que tento fazer com pessoas de curso superior, e falho miseravelmente? Aliás, fazia tempo que não me emocionava tantas vezes no cinema. Seja por uma mãe que perde um filho, por um homem que não se contém de tanta alegria, ou por perceber que aquelas pessoas que trabalham atoladas no lixo são felizes e isso realmente mexer comigo. Muniz comenta que sua obra mais famosa, “Sugar Children”, reflete a falta que a doçura do açúcar fazia nos pais das crianças que ele retratava num canavial, mas nesse caso não era no Brasil. Aqui, o artista plástico se depara com gente que teria todos os motivos do mundo para viver de cara amarrada, mas não exita em abrir um largo sorriso.
Não se engane, Lixo Extraordinário está longe de ser um filme triste. Gargalhei por diversas vezes, afinal, o bom humor também é típico da nossa gente. Não se surpreenda ao descobrir que catadores divertem-se tentando adivinhar a sua classe social pelo que você joga no lixo, suas correspondências, ou mesmo pelo tipo de saco plástico que usa.
Como se não bastasse, além dos personagens reais fantásticos, um filme que se passa no lixão consegue ser visualmente lindo. É impressionante como de um ângulo correto, com a câmera e a luz certas, qualquer coisa pode ficar realmente linda, como esta fotografia, como arte.  Para completar, a eficiente montagem traz imagens de arquivo pessoal de Vik Muniz, e dois trechos de entrevistas do Jô Soares, que inicialmente me deixaram confuso e desacreditado, mas ao término do filme, tudo é quase perfeito.
Sei que não é papel de crítico indicar ou não um filme. Mas não ouso me chamar de crítico de cinema, e nesse texto, nem mesmo aspirante a tanto. Escrevo apenas como um admirador da sétima e das outras artes, apenas gritando aos quatro ventos para os meus amigos e para aqueles que visitam este espaço: "CORRÃO", eu sei que vocês irão gostar!
E por favor, reciclem a embalagem do filtro solar.

Lixo Extraordinário ***** 9,5
Waste Land, Brasil/Reino Unido
Lucy Walker, 2011 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Vencedor


Filme de luta? Não. Baseado em uma história real, O Vencedor é sobre uma família. Uma família destruída pelo vício de um dos filhos em crack (Bale) e que deposita toda sua esperança na carreira do filho mais novo como lutador (Wahlberg), já que as outras SETE irmãs não parecem fazer muita coisa além de fofocarem o dia todo.  A dinâmica desta família, invadida por uma namorada briguenta, é o que move este ótimo filme, de atuações espetaculares.
Mark Wahlberg fica apagado no meio tantos bons coadjuvantes, não por culpa do ator, que entrega uma atuação enxuta e correta, mas sim pelo personagem.  Apesar de ser o protagonista, Micky não tem a complexidade dramática dos outros, e é retratado como um homem desacreditado e sem voz ativa. Nos poucos momentos em que toma as rédeas da situação, como quando consegue o número de telefone de uma garçonete, Wahlberg enche a tela com seu sorriso, o mesmo sorriso do garoto que conhecemos em Diário de um Adolescente e Boogie Nights.
Melissa Leo está muito bem como a mãe sofrida e que sonha com o sucesso dos filhos, ainda que eu prefira Amy Adams de namorada autoritária, que troca as mega expressões de Leo por um rosto sempre sério, com as lágrimas brigando para não cair. “Às vezes menos é mais.”
Christian Bale chama a atenção em todas as cenas em que está presente, da abertura ao encerramento, trazendo a hiperatividade, o bom humor e a cara da decadência de um viciado. Um homem que vive repetindo nas palavras e mesmo a encenação, de seu maior momento de glória (e a ótima montagem intercala as duas passagens demonstrando o grande contraste). Mais magro do que nunca, chega a ser difícil acreditar que aquele homem frágil e desdentado é o Batman, mesmo que já o tenhamos visto fisicamente parecido no ótimo e esquecido O Operário. Assim, além da atuação perfeita e de se revelar um bom cantor em duas passagens, o ator ainda estampa na cara a vontade e a entrega de um apaixonado por sua profissão. Há como o Oscar não ser dele? Impossível.
Ao término da luta final, os dois irmãos se agacham no canto do ringue, e conversam algo. Algo que não ouvimos, que pertencia apenas a eles.

O Vencedor **** 9,0
The Fighter,
David O. Russel, 2011
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