terça-feira, 8 de março de 2011

127 Horas

Até onde você iria para salvar sua vida? Até que ponto vão a coragem e a força de um homem ao tomar uma grande decisão? A vida é feita de escolhas e nós todos sabemos disso, mas escolher entre sua vida, ou parte do seu corpo não é algo que fazemos todos os dias.  Mas foi essa a escolha que Aron Ralston teve que fazer. O alpinista americano estava em uma de suas aventuras nos cânions de Utah, sem ter avisado a ninguém aonde iria, quando sofreu um acidente e ficou com o braço preso em uma rocha, no meio das montanhas. Ali começa seu dilema, que dura 127 Horas, até que ele finalmente escolhe seu destino. Você faria o mesmo?
 A premissa já lhe avisa de antemão que será um filme claustrofóbico, angustiante e incômodo, e quando entramos na sala estamos preparados para isso, mas o diretor e roteirista Danny Boyle (Quem quer ser um milionário?) não parece confiante de que o público esteja pronto para tanto. Ao invés de um filme intimista e pequeno (como o superior Enterrado Vivo), Boyle transforma, ou tenta transformar 127 Horas num filme grandioso e para isso não mede esforços. O principal exemplo é a montagem frenética, que divide a tela em três em vários momentos, e faz inserções de comerciais antigos de refrigerante como pensamentos do protagonista, chegando ao cúmulo do “I wanna be cool!”.
Boyle não se limita a fazer o correto e óbvio nos enfoques de câmeras. Os planos abertos no início do longa, dão lugar a planos fechados e closes angustiantes, e no meu ver, esse deveria ser o formato de todo o filme, mas não para este diretor que insiste em ser pop. Há closes até mesmo de dentro do cantil, insistindo em nos mostrar o que Aron está bebendo para causar repulsa. Mas quando acha que o filme está ficando sério e triste demais, levamos um susto com uma música alegre e a voz de um radialista que nos comunica feliz, que é segunda-feira. Ora, se eu que estou aqui livre, não suporto felicidade numa segunda de manhã, imagino o coitado do rapaz. Aproveitando o momento para ilustrar o constante bom humor e também os devaneios de Ralston, que começa a encenar um programa de entrevistas, sou jogado para fora do longa ao ouvir risadas ao fundo, de uma platéia fictícia. Desnecessário.
Como já disse, as diversas lembranças e alucinações soam como escapes, de quem não confia na força do material que tinha em mãos, e como se já não bastasse, ainda somos brindados com uma cena em que a ex-namorada diz: “Você ficará tão só” em meio a uma briga, nos querendo convencer do que? Que era uma praga dela? Que ele teria feito por merecer? Triste.
E quando você pensa que o carismático James Franco vai bater na mesa e nos mostrar que estava ali não por ser uma escolha jovem e moderninha, mas que tinha talento a mostrar e nos entregaria uma atuação fantástica, não nos surpreendemos. Franco não é ruim, mas também não justifica tantos elogios.
Apesar de tantos esforços para estragar tudo, 127 Horas está longe de ser um filme ruim. Competente em nos mostrar o amor que o protagonista sentia por aquele lugar, chocante e triste na medida certa nas cenas finais, e com a ajuda de uma fantástica trilha sonora, é sim um bom filme. O final clichê com as letrinhas explicando o futuro, e o aparecimento do real Aron Ralston é quase o melhor do filme. Algo que em boa parte da projeção eu fiquei inquieto para ver logo e que não me arrependi. O filme acaba, as pessoas saem felizes por terem visto um lindo clipe, e eu e mais meia dúzia de pessoas com coração ficamos lá arrasados e chorando litros.
Sobre aquele pergunta que eu havia feito no início do texto, prefiro não responder, tenho medo do que poderia me acontecer.

127 Horas **** 7,5
127 Hours, EUA
Danny Boyle, 2011
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