quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Segredo dos Seus Olhos


O diretor argentino Juan José Campanella costuma dirigir episódios de séries americanas de tv, como House e 30 Rock, mas é conhecido pelos seus filmes que retratam a classe média de seu país, os tocantes O Filho da Noiva, Clube da Lua e O Mesmo Amor, a Mesma Chuva. Desta vez ele comanda uma trama que tem um pouco de tudo, suspense policial, drama, romance e até comédia, que conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
O Segredo dos Seus Olhos não segue uma narrativa linear. Começa com Benjamin Esposito, um oficial de justiça aposentado, que tenta se recordar de um antigo caso para que possa escrever um livro com suas memórias. A medida que as lembranças vão surgindo vamos sendo jogados ao passado e ao presente, e apresentados aos poucos a história do protagonista, que se mistura com a do caso.
O longa é tecnicamente impecável. Tem um belo trabalho de maquiagem, uma fotografia interessante, uma montagem eficiente, ótimas atuações, além de ser repleto de cenas marcantes. Como exemplo, me vem à cabeça a do elevador, onde nenhuma palavra é dita, mas a tensão é altíssima, algo que vou ressaltar a seguir.
O filme é repleto de olhares significativos, e em muitas cenas diz muito mais nos olhares dos personagens, do que em palavras. Cenas longas, silenciosas, mas que não precisam de falas para entender tudo que o diretor quer passar. Como a reunião, onde Irene vai fechar a porta achando que se trata de um assunto, mas com a chegada de outra pessoa, sem que nada seja dito, entende que estava errada e demonstra todos os seus sentimentos apenas com os olhos, num belíssimo trabalho de Soledad Villamil. Ou na conversa no metrô onde Benjamín olha para Ricardo Morales, em atuações inspiradas de Ricardo Darín e Pablo Rago, e naquele momento entende o tamanho daquele amor, e a importância daquele caso ser resolvido.
Campanella consegue, em poucas cenas onde o diálogo é realmente importante, nos presentear com pérolas como “As pessoas podem mudar de tudo: de cara, de casa, de família, namorada, religião, de Deus. Mas tem uma coisa que não se pode mudar, Benjamín. Não se pode trocar de paixão." Esta bela frase é seguida por um plano-sequência num estádio de futebol absolutamente espetacular, que começa numa visão panorâmica, segue por uma perseguição pelas arquibancadas e termina no campo. Algo digno de palmas.
É por isso tudo, e por uma cena pouco antes do fechamento desta obra-prima, que me arrepiou dos pés a cabeça, que digo que O Segredo dos Seus Olhos é o melhor filme de Campanella, e um dos meus prediletos.

O Segredo dos Seus Olhos *****
El Secreto de Sus Ojos
Juan José Campanella, 2009
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