domingo, 26 de setembro de 2010

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme


Depois de passar anos cumprindo pena por tudo que aprontou em Wall Street - Poder e Cobiça, Gordon Gekko retorna aos holofotes ao lançar um livro e agora terá de batalhar para reconquistar sua filha. Para isso contará com a ajuda do ambicioso genro Jake. Tudo isso em meio à crise causada pela bolha imobiliária de 2008. Este é o mote para que 23 anos depois, Oliver Stone apresente Wall Street: O dinheiro Nunca Dorme.
Se no primeiro Gekko é um homem sem escrúpulos que só pensa em ganhar mais e mais dinheiro, agora ele volta da prisão com lições aprendidas, mais humano e meio guru, com previsões de crise que se confirmam. É interessante vê-lo embaraçado por não ser reconhecido e não ter mais o mesmo prestígio, em momentos até emocionado, algo inimaginável anteriormente. E preciso ressaltar que Michael Douglas está perfeito novamente no papel do canastrão.
É triste ver Eli Wallach tendo que se limitar a fazer caretas para ser engraçado. Em compensação, Frank Langella tem uma ótima, porém curtíssima participação, e a cena em que seu personagem se despede do filme é muito bem construída.  Já Carey Mulligan é irregular. Ótima em algumas cenas, mas peca pelo excesso em outras, com expressões exageradas.
Já nos primeiros minutos o espectador é surpreendido com uma sucessão de erros. Neste trecho, onde temos que ser conquistados, há várias reuniões e discussões com nomes de empresas, e linguagem teórica excessiva, fazendo com que boa parte das pessoas, que não estão habituados a esse mundo, perca o interesse. Há também um excesso de inserções visuais. Desde gráficos sobre os rostos durante as cenas, a coisas cafonas como balões nas ligações de celulares.
Se em alguns momentos Stone parece fazer um filme para quem conhece o mercado de ações, e espera um nível intelectual de quem assiste, em outros parece querer explicar demais. A cena em que focaliza os brincos das mulheres em uma festa, querendo ilustrar algo que estaria claro sem este artifício, que é usado repetidas vezes, é um exemplo. Ou mesmo no encerramento, com crianças fazendo bolhas de sabão, que seria uma clara e bela metáfora às bolhas das crises, caso já não tivesse sido usada em uma cena idêntica no meio do filme. Há necessidade de se repetir igual?                   
O reencontro com Bud Fox não tem como não ser cômico. Além da troca de farpas entre os antigos protagonistas, Charlie Sheen abandonou o estilo carrancudo do primeiro longa e deu lugar a um homem sorridente. Nada mais que o reflexo do próprio ator, que jamais abandonou o sorrisinho maroto adquirido em Top Gang!.
Como filme, Wall Street: O dinheiro Nunca Dorme é razoável. Porém, funciona como um ótimo retrato de uma geração. Deixando de lado vilões e corporações malignas, criados para não fugir da mesmice, o que nos sobra é a crise de verdade. Prova disso é que pra mim (talvez por me interessar pelo assunto), a melhor cena do filme, não tem nada de mais, cinematograficamente falando. É quando Gekko dá uma palestra, que na verdade é uma lição de moral no povo americano. “Vocês estão ferrados!”, ele começa. E segue num monólogo em que explica os pontos importantes da crise de 2008, antes mesmo dela acontecer: A ganância não só é boa como agora é legal, diz ele. Critica o consumismo, incentivado pelo governo ao baixar os juros a 1%, diz que os EUA não produz nada, apenas vive do crédito, e exemplifica como a bola de neve começa. Diz tudo aquilo que aquele povo tinha que ouvir, e o mais interessante é que ao fazer isso, ele é recebido com risadas pela pateia, como se não se importassem. (típico da geração atual)
Ao apelar para um final fácil, o roteiro perde densidade e o filme se revela apenas um passatempo, apesar da boa dose crítica. A não ser que resolvamos ouvir o guru Gordon Gekko, que diz que a próxima bolha será ocasionada pela energia verde. Esperemos. Afinal, “o dinheiro é uma vadia que nunca dorme”.

Wall Street: O dinheiro Nunca Dorme ***   7,0
Wall Street: Money Never Sleeps
Oliver Stone, 2010

2 comentários:

  1. O Bud Fox virou o Charlie Harper, cuspido e escarrado.

    Sei não, eu acho que esse filme tem todo um lado kitsch muito forte. Não gostei muito não, achei ele cansativo demais, arrogante demais, ao querer dar lições, em vez de contar uma boa história.

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  2. Ainda não assisti, mas não sei se tenho tanta curiosidade. Acho que vou esperar entrar no mercado home vídeo.

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