terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lixo Extraordinário

Se Pedro Bial pudesse lhe dar um conselho para vida, seria: “Use filtro solar”. Se eu pudesse lhe dar um conselho para a sua próxima semana de vida, seria: Vá assistir Lixo Extraordinário! Filmado ao longo de  pouco mais de dois anos – 2007 a 2009 – o documentário, indicado ao Oscar de 2011, acompanha Vik Muniz, artista plástico brasileiro com grande reconhecimento fora do país, que resolve fazer um trabalho envolvendo o maior aterro sanitário da América Latina, localizado no Rio de Janeiro. A proposta de Muniz é transformar lixo em arte, utilizando ajuda dos trabalhadores locais, divulgando assim a vida dos catadores como forma de devolver um pouco para a sociedade, todo o sucesso que alcançou.
Dispense os preconceitos. Não é um documentário chato. Não é um longa que agradará apenas os intelectualmente superiores, seja lá o que isso queira dizer. E não, não é um filme sobre lixo, mas sobre pessoas e sobre arte. Lixo Extraordinário é lindo, esbanja brasilidade e deveria ser obrigatório.
Aos poucos, vamos conhecendo melhor este grande artista e as pessoas que encontra no caminho, e como não se encantar e se surpreender com Zeus e Tião, catadores que discutem Nietzsche e Maquiavel? Isso mesmo, livros encontrados no lixão são lidos, e pasmem, entendidos. Oportunidade dada às pessoas erradas? Quem sabe... Como não se emocionar com um senhor de idade “sem primeiro nem segundo grau” como ele diz, dando uma aula de conscientização e meio ambiente, algo que tento fazer com pessoas de curso superior, e falho miseravelmente? Aliás, fazia tempo que não me emocionava tantas vezes no cinema. Seja por uma mãe que perde um filho, por um homem que não se contém de tanta alegria, ou por perceber que aquelas pessoas que trabalham atoladas no lixo são felizes e isso realmente mexer comigo. Muniz comenta que sua obra mais famosa, “Sugar Children”, reflete a falta que a doçura do açúcar fazia nos pais das crianças que ele retratava num canavial, mas nesse caso não era no Brasil. Aqui, o artista plástico se depara com gente que teria todos os motivos do mundo para viver de cara amarrada, mas não exita em abrir um largo sorriso.
Não se engane, Lixo Extraordinário está longe de ser um filme triste. Gargalhei por diversas vezes, afinal, o bom humor também é típico da nossa gente. Não se surpreenda ao descobrir que catadores divertem-se tentando adivinhar a sua classe social pelo que você joga no lixo, suas correspondências, ou mesmo pelo tipo de saco plástico que usa.
Como se não bastasse, além dos personagens reais fantásticos, um filme que se passa no lixão consegue ser visualmente lindo. É impressionante como de um ângulo correto, com a câmera e a luz certas, qualquer coisa pode ficar realmente linda, como esta fotografia, como arte.  Para completar, a eficiente montagem traz imagens de arquivo pessoal de Vik Muniz, e dois trechos de entrevistas do Jô Soares, que inicialmente me deixaram confuso e desacreditado, mas ao término do filme, tudo é quase perfeito.
Sei que não é papel de crítico indicar ou não um filme. Mas não ouso me chamar de crítico de cinema, e nesse texto, nem mesmo aspirante a tanto. Escrevo apenas como um admirador da sétima e das outras artes, apenas gritando aos quatro ventos para os meus amigos e para aqueles que visitam este espaço: "CORRÃO", eu sei que vocês irão gostar!
E por favor, reciclem a embalagem do filtro solar.

Lixo Extraordinário ***** 9,5
Waste Land, Brasil/Reino Unido
Lucy Walker, 2011 

Um comentário:

  1. Parece ser bom, mas não creio que o Brasil tenha chance com ele.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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