domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Vencedor


Filme de luta? Não. Baseado em uma história real, O Vencedor é sobre uma família. Uma família destruída pelo vício de um dos filhos em crack (Bale) e que deposita toda sua esperança na carreira do filho mais novo como lutador (Wahlberg), já que as outras SETE irmãs não parecem fazer muita coisa além de fofocarem o dia todo.  A dinâmica desta família, invadida por uma namorada briguenta, é o que move este ótimo filme, de atuações espetaculares.
Mark Wahlberg fica apagado no meio tantos bons coadjuvantes, não por culpa do ator, que entrega uma atuação enxuta e correta, mas sim pelo personagem.  Apesar de ser o protagonista, Micky não tem a complexidade dramática dos outros, e é retratado como um homem desacreditado e sem voz ativa. Nos poucos momentos em que toma as rédeas da situação, como quando consegue o número de telefone de uma garçonete, Wahlberg enche a tela com seu sorriso, o mesmo sorriso do garoto que conhecemos em Diário de um Adolescente e Boogie Nights.
Melissa Leo está muito bem como a mãe sofrida e que sonha com o sucesso dos filhos, ainda que eu prefira Amy Adams de namorada autoritária, que troca as mega expressões de Leo por um rosto sempre sério, com as lágrimas brigando para não cair. “Às vezes menos é mais.”
Christian Bale chama a atenção em todas as cenas em que está presente, da abertura ao encerramento, trazendo a hiperatividade, o bom humor e a cara da decadência de um viciado. Um homem que vive repetindo nas palavras e mesmo a encenação, de seu maior momento de glória (e a ótima montagem intercala as duas passagens demonstrando o grande contraste). Mais magro do que nunca, chega a ser difícil acreditar que aquele homem frágil e desdentado é o Batman, mesmo que já o tenhamos visto fisicamente parecido no ótimo e esquecido O Operário. Assim, além da atuação perfeita e de se revelar um bom cantor em duas passagens, o ator ainda estampa na cara a vontade e a entrega de um apaixonado por sua profissão. Há como o Oscar não ser dele? Impossível.
Ao término da luta final, os dois irmãos se agacham no canto do ringue, e conversam algo. Algo que não ouvimos, que pertencia apenas a eles.

O Vencedor **** 9,0
The Fighter,
David O. Russel, 2011

2 comentários:

  1. Vi esse filme hoje e não achei ele muita coisa. Bem quadradinho, sem nada que o diferencie de tantos outros que vieram antes (e que certamente virão depois).

    A não ser a magreza medonha do Bale.

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  2. Seu texto está excelente, e foi certeiro em vários pontos, como na boa atuação de Mark Wahlberg (citando o momento em que ele pega o número da futura namorada, lindo), mostrando que, se ele fica ofuscado, é por causa do personagem desdenhado, ao que eu adicionaria culpa ao diretor e aos roteiristas, já que é em torno desse personagem que tudo gira. Também ao escolher Amy Adams sobre Melissa Leo e seus exageros (e aquela cena em que ela *quase* chora é, para mim, a melhor do filme, e por ela já daria o Oscar para a garota). No entanto, para mim, assim como Leo, Bale está mais exagerado do que o personagem permitia, há mais caricatura do que o necessário, com o *ator* parecendo brigar em cena para aparecer sobre o resto do elenco, querendo chamar a atenção para a sua performance, o que achei reprovável, e, mesmo adorando seus trabalhos, torcerei contra sua vitória no Oscar. Pensei muito se o personagem necessitava de tantos excessos de caracterização (até olhei outros vídeos dos irmãos no YouTube), mas não: sua atuação é auto-indulgente, vaidosa e, quando o fraco roteiro pede, caricata. A inverossimilhança rola solta o filme inteiro, e me pergunto que direção merece ser indicada a prêmios ao permitir tantas bobagens na tela e tão pouca originalidade, como as irmãs retratadas como retardadas que completam o que outra fala ou repetem (há coisa mais cartunesca?), ou quando mãe e filhas vão à casa da namorada (ridículo). Há bons enquadramentos, e alguns ótimos momentos, em que O. Russell se destaca, especialmente ao conduzir as cenas finais, as únicas em que a montagem realmente merece elogios, com o uso bem pontuado da trilha. É um filme cheio de falhas que, para mim, merecia apenas a indicação de Amy Adams. Que A ORIGEM tenha ficado de fora em duas categorias que merecia mais que todos os outros, por exemplo, e trabalhos tão medíocres quanto esses tenham entrado, é profundamente lamentável. Acho um bom filme, apenas. 6/10 [E não me espantarei se pegarei esse comentário para fazer a minha resenha... rsrs]

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