David Yates é um homem corajoso. Antes de assumir a direção de Harry Potter e a Ordem da Fênix e seguir no posto pelos seguintes, havia feito apenas um filme, mas não hesitou em colocar a sua marca política na série já consagrada.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 é um filme sombrio, escuro, levado em boa parte excessivamente pelas câmeras de mão demonstrando urgência. Abrindo com o símbolo da Warner em pedaços, nos anuncia o que virá pela frente. Logo em seguida Yates demonstra confiança no amadurecimento do espectador ao vermos uma mulher pendurada de cabeça para baixo, sangrando. Afinal, as crianças que acompanharam a série de filmes e livros desde o início, e me incluo nelas, cresceram faz tempo.
Muito se diz que HP7 foi dividido em dois por questões financeiras, que são mais do que óbvias. Mas a desculpa dada, de que é um livro denso que ficaria melhor em duas partes, faz sentido. Sim, eu sei que HP5 era maior e deu certo, mas havia diversas tramas paralelas que foram ignoradas corretamente pelo diretor, o que fez muitos fãs o odiarem por isto. Já o sétimo livro é centrado nos protagonistas do inicio ao fim, sem espaço para subtramas. Uma adaptação com qualidade, que chegasse perto da fidelidade que este chegou, só com 4 horas de duração. Ou então, poderiam ter cortado os momentos de sofrimento, introspectivos, e até “parados”, que estão presentes no livro, mas Yates é um homem corajoso. HP7.1 tem trechos cadenciados, algo inimaginável num filme de magia adolescente, o que demonstra que muito mais que um filme de aventura, é um filme sobre amizade. Amizade de três jovens, que depois de sete anos, realmente é colocada a prova. Sendo assim, é ótimo perceber a evolução do trio protagonista. O Daniel Radcliffe amador do primeiro filme deu lugar a um ator que corresponde ao que se espera, algo que já havia demonstrado no filme anterior. Emma Watson cresceu drasticamente como atriz e abandonou as caretas exageradas dos anteriores, para um olhar contido, melancólico, e está perfeita como fio condutor, desde a cena de abertura. Rupert Grint, sempre eficiente, além de servir de alívio cômico, em meio a tanta sombra acaba sendo tomado por ela e nos mostra um lado de Rony que não conhecíamos nas telas.
Sempre critiquei a forma como mortes importantes aconteceram nos filmes anteriores. Filmadas de forma precipitada, sem transmitir emoção nem densidade. Desta vez Yates se esforça, constrói um arco para amarmos certo personagem, para em seguida o vermos partir, de forma sofrida. Ainda que realmente tenha-se feito a lição de casa, a mim, ainda não atingiu em cheio.
Yates e Steve Kloves, roteirista de quase toda a saga, também não deixam sua imaginação de lado ao criar cenas do zero, algo que já fizeram com maestria logo na abertura do sexto filme. E desta vez não é diferente. A melhor cena do filme, não está no livro. Uma sequência de dança envolvendo dois dos protagonistas, que revela como aquela amizade é sólida, o quanto eles se gostam, e o quanto se respeitam. Essa sim, realmente tocante.
Em tempo: Dobby é, de longe, o personagem mais apaixonante de toda a série, e é dele a melhor frase do longa: “Dobby não queria matar, Dobby queria apenas mutilar ou causar ferimento grave.”
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 **** 9,0
Harry Potter and The Deathly Hallows: Part 1
David Yates, 2010