sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Apostas para o Oscar 2012 - Indicados


Alguns lamentam, alguns comemoram, mas é inegável que este ano tivemos mais surpresas do que o esperado. Abaixo os indicados ao Oscar 2012, com comentários. Das 104 indicações, acertei 75. O que me da pouco mais de 72% de acerto. Ano passado foi 80%. Prometo melhorar nos vencedores.



O Oscar acontecerá apenas em fevereiro, mas os apostadores já estão em polvorosa. Eu, que quase nem gosto dessa época de premiações, já fiz a minha lista de prováveis indicados. O anúncio oficial dos indicados será em 24 de janeiro. Os nomes estão em ordem probabilidade. Quais são as suas apostas?

MELHOR FILME

O Artista
Os Descendentes
A Invenção de Hugo Cabret
Histórias Cruzadas
Meia Noite em Paris
O Homem que Mudou o Jogo
Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Cavalo de Guerra

Quem pode aparecer: A Árvore da Vida e Missão Madrinha de Casamento

Surpresa inesperada: Tão Forte e Tão Perto


Este ano não havia um número certo de indicados, poderia variar entre 5 e 10. Esperava-se 8, e com a 9ª vaga, veio Tão Forte e Tão Perto mostrar que ainda têm forças. Após críticas adversas, ninguém acreditava mais no filme, mas ele está vivo.

MELHOR DIRETOR

Michel Hazanavicius | O Artista
Martin Scorsese | A Invenção de Hugo Cabret
Alexander Payne | Os Descendentes
Wood Allen | Meia Noite em Paris
David Fincher | Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Quem pode aparecer: Terrence Malick | A Árvore da Vida 


É sempre uma pena não ter Fincher concorrendo a melhor diretor. Malick e toda a sua excentricidade estarão no Oscar este ano. Quer dizer, ele não deve ir, como nunca foi a nenhuma premiação.

MELHOR ATOR

George Clooney | Os Descendentes
Jean Dujardin | O Artista
Brad Pitt | O Homem que Mudou o Jogo
Michael Fassbender | Shame
Leonardo DiCaprio | J. Edgar


Quem pode aparecer: Gary Oldman | O Espião que Sabia Demais 
Surpresa Inesperada:  Demián Bichir | A Better Life


Indicado ao SAG(sindicado dos atores), ele era uma possibilidade, mas era difícil acreditar que DiCaprio e Fassbender seriam ignorados, denovo.



MELHOR ATRIZ

Viola Davis | Histórias Cruzadas
Michelle Williams | Sete Dias Com Marilyn
Meryl Streep | A Dama de Ferro
Glenn Close | Albert Nobbs
Tilda Swinton | Precisamos Falar Sobre o Kevin

Quem pode aparecer:  Rooney Mara | Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Swinton está ótima no filme, mas ainda não vi Mara.

MELHOR ATOR COAJUVANTE

Christopher Plummer | Toda Forma de Amor
Albert Brooks | Drive
Kenneth Branagh | My Week With Marilyn
Jonah Hill | O Homem que Mudou o Jogo
Nick Nolte | Guerreiro

Quem pode aparecer: Armie Hammer | J. Edgar
Surpresa Inesperada: Max von Sydon | Tão Forte e Tão Perto
Junto com o filme, von Sydon ganha novo fôlego. Drive foi praticamente esquecido pela academia.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Octavia Spencer | Histórias Cruzadas
Berenice Bejo | O Artista
Jessica Chastain | Histórias Cruzadas
Shailene Woodley | Os Descendentes
Melissa McCarthy | Missão Madrinha de Casamento

Quem pode aparecer: Janet McTeer | Albert Nobbs

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Meia Noite em Paris
O Artista
Ganhar Ganhar
50%

Missão Madrinha de Casamento

Quem pode aparecer: A Separação e Jovens Adultos
Surpresa Inesperada: Margin Call


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Os Descendentes
O Homem que Mudou o Jogo
Histórias Cruzadas
A Invenção de Hugo Cabret
Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Quem pode aparecer: O Espião que Sabia Demais
Surpresa Inesperada: Tudo Pelo Poder


George Clooney leva uma indicação também por roteiro. Mais do que merecido. O filme merecia mais espaço.

MELHOR MONTAGEM

O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres
O Homem que Mudou o Jogo
Os Descendentes

Quem pode aparecer: Cavalo de Guerra

Primeira categoria com 100% de acerto.

MELHOR FOTOGRAFIA

A Árvore da Vida
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Cavalo de Guerra

Quem pode aparecer: O Espião que Sabia Demais


Sem surpresas. 100%.

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

A Invenção de Hugo Cabret
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2
O Espião que Sabia Demais
Cavalo de Guerra

Quem pode aparecer: Jane Eyre
Surpresa Inesperada: Meia Noite em Paris


Inesperada e bem-vinda.

MELHOR FIGURINO

Jane Eyre
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Histórias Cruzadas
Anônimo

Quem pode aparecer: W.E. – O Romance do Século e Sete Dias Com Marilyn

Olha o filme da Madonna dando as caras.

MELHOR TRILHA MUSICAL

O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Cavalo de Guerra
Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres
O Espião que Sabia Demais

Quem pode aparecer: As Aventuras de TinTim

MELHOR CANÇÃO

“Life is a Happy Song” | Os Muppets
“Star Spangled Man” | Capitão América
 “The Living Proof” | Histórias Cruzadas
“Lay Your Head Down” | Albert Nobbs

“Man or Muppet” | Os Muppets

Quem pode aparecer: “Pictures in My Head | Os Muppets
Surpresa Inesperada: "Real in Rio" | Rio


E quem disse que o Brasil não está no Oscar este ano? Sérgio Mendes e Carlinhos Brown representarão o país com a música da animação Rio. Ao menos não foi com a música pavorosa de encerramento do filme.


MELHOR MAQUIAGEM


A Dama de Ferro
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2

Quem pode aparecer: Gainsbourg


Sempre uma categoria difícil de prever, Albert Nobbs levou a última vaga.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Super 8
Cavalo de Guerra
Planeta dos Macacos: A Origem
Transformers 3
A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode aparecer: As Aventuras de TinTin e Drive
Surpresa Inesperada: Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres 

MELHOR MIXAGEM DE SOM

Super 8
A Invenção de Hugo Cabret
Piratas do Caribe IV
Cavalo de Guerra
Transformers 3

Quem pode aparecer: Hanna e O Homem Que Mudou o Jogo
Surpresa Inesperada:  Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres

A prova de que Super 8 foi completamente esnobado.

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Planeta dos Macacos: A Origem
Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
A Árvore da Vida
Transformers 3

Quem pode aparecer: Capitão América
Surpresa Inesperada: Gigantes de Aço


Particularmente, acho que Gigantes de Aço merecia estar aí mesmo.

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO


Rango
As Aventuras de TinTin
O Gato de Botas
Operação Presente
Carros 2

Quem pode aparecer: Kung Fu Panda 2 
Surpresas Inesperadas: Um Gato em Paris e Chico & Rita


A categoria mais surpreendente. Tintim levou a pior por contar com o motion capture.

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

A Separação | Irã
In Darkness | Polônia
Monsieur Lazhar – Canadá
Footnote | Israel
Pina | Alemanha
Quem pode aparecer: Bullhead | Bélgica 

MELHOR DOCUMENTARIO

Projeto Nim
Pina
Buck
Bill Cunningham New York
Paradise Lost

Quem pode aparecer: Hell and Back Again
Surpresas: Undefeated e If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front



Ranking:11 indicações: A Invenção de Hugo Cabret
10 indicações: O Artista
7 Indicações:
6 Indicações: Cavalo de Guerra | O Homem que Mudou o Jogo
5 Indicações:  Os Descendentes | Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres
4 Indicações: Histórias Cruzadas | Meia Noite em Paris
3 Indicações:  Transformers 3 | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 | O Espião que Sabia Demais | A Árvore da Vida | Albert Nobbs
2 indicações:  Sete Dias Com Marilyn | A Dama de Fero | A Separação

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Cinema e o Marketing Duvidoso


 O sucesso nas bilheterias nem sempre depende da qualidade do filme, mas na maioria das vezes, das ações de marketing envolvidas no seu lançamento. Podemos comprovar isto dando uma breve olhada na lista das dez maiores bilheterias de todos os tempos. Por lá encontram-se pérolas como “Alice no País das Maravilhas” e “Transformers”, filmes que não são grandes exemplos de cinema, mas vieram acompanhados de massivas campanhas para encher as salas e que alcançaram seus objetivos. O meu com este texto é discutir justamente o oposto, quando ótimos filmes não conquistam a bilheteria esperada por terem sido sabotados pelos seus distribuidores.
 As distribuidoras brasileiras tem uma tarefa árdua, e são muitas vezes alvo de ataques infundados por nós, cinéfilos. Pense bem, elas tem de adquirir um produto (o filme), com base no feeling de algumas pessoas ou no burburinho que ele está causando, apostando que o investimento pesado que inclui a divulgação e a distribuição em si, além do próprio custo de compra, dará retorno. Quando elas adquirem um filme, e tempos depois não consideram que seu lançamento seja rentável, ele aparece direto em vídeo para evitar maiores prejuízos. Ou, quando querem lançar um filme importante, mas ainda assim não acreditam plenamente no potencial dele, elas utilizam de uma tática que eu costumo chamar de CANALHICE. A canalhice em questão aqui provém da Paris Filmes. Ela não é a única que faz este tipo de coisa, mas coincidentemente (ou não), os três casos que me motivaram a escrever este texto, são de sua responsabilidade.
 Duas obras têm muito em comum. Estrearam ano passado nos Estados Unidos, suas protagonistas concorreram ao Oscar deste ano e são ótimos dramas repletos de sofrimento e beleza. Falo de “Blue Valentine” e “Rabbit Hole”. Não pense que vou reclamar por terem estreado por aqui com média de CINCO meses de atraso. A isso já estamos todos acostumados e apesar de não gostar, até entendo. O selinho do Oscar no pôster de um filme sempre atrai público. O que está em questão é justamente a necessária campanha de marketing.
 Blue Valentine é um filme sobre o fim do amor. Vemos o início e o término de um relacionamento, que se desgasta ao longo de anos, com repetidas brigas e ofensas. Um trabalho fantástico que reúne roteiro, montagem, direção e atuações primorosas, sem esquecer-se da trilha sonora que até hoje não parei de ouvir. Daqueles que você sai da sala de cinema com um gosto amargo na garganta, mas que cada vez que se lembra do filme, gosta mais dele. E aí me vem a Paris Filmes e faz uma grande campanha para lançar o filme no DIA DOS NAMORADOS. O título, que em uma tradução livre seria algo como “Namoro Triste”, se transforma em “Namorados para Sempre”. O que se consegue com isso? Uma sala de cinema cheia no dia dos namorados, repleta de casais adolescentes, em que a menina espera ver mais um romance chinfrim no naipe de “Um Amor para Recordar” e o rapaz, coitado, foi arrastado até ali. Ele acaba dormindo, e ela sai desolada com o choque da realidade a que foi apresentada, dizendo para todas as amigas que o filme é péssimo. Na semana seguinte Blue Valentine viu sua bilheteria diminuir em 60%, e não sobreviveu até a outra sexta-feira.
 Rabbit Hole, ou em tradução livre “Toca do Coelho” (uma metáfora utilizada no filme), é sobre a dor da perda de um filho. É Nicole Kidman chorando freneticamente do início ao fim do longa, nos mostrando que sobreviveu a todas as plásticas e ainda é uma baita atriz, acompanhada do soberbo Aaron Eckart. Tocante e contido, é quase um estudo sobre o luto. O título em português? "Reencontrando a Felicidade". A de quem eu não sei. Rabbit Hole arrecadou míseros R$159.000,00 no Brasil.
 Juro que tento entender, mas é difícil. O motivo para isso seria porque são diretores desconhecidos do grande público? Porque são filmes pesados de drama que precisam de um incentivo? Então lhe apresento o terceiro exemplo. Uma comédia, de um diretor renomado como Woody Allen, que por si só já atrai milhares de cinéfilos, com um pôster lindíssimo que brinca com uma tela de Van Gogh. Nem com tudo isso, “Meia Noite em Paris” (enfim uma tradução correta) saiu livre. Esse pôster mequetrefe aqui ao lado foi o utilizado no país. Aí eu ouço, na fila do cinema, dois casais conversando. Uma moça dizendo para outra que a obra-prima de Allen era péssima. Ao ser indagada do porque, respondeu: “Olha o pôster! Achei que fosse um romance e era uma comédia ‘toda louca’.” Felizmente a primorosa loucura não foi afetada, e é a maior bilheteria do diretor no Brasil desde sempre. Daqueles casos em que a qualidade do filme prevalece a uma tentativa de sabotagem.
 Talvez nossas distribuidoras não saibam, mas uma das formas de marketing mais efetiva é o buzzmarketing, ou o famoso boca a boca. Conseguir levar o público a sala de cinema em primeira instância, ludibriado, ao invés de alavancar a bilheteria pode fazê-la murchar. Se o público alvo de um filme é um, não adianta tentar conquistar os demais em cima de uma farsa.
 Sonho com o dia em que os títulos de filmes sejam mantidos no original, ou ao menos que se façam traduções que mantenham os significados que seus autores pretendiam. Só assim poderemos nos ver livres de filmes como “Annie Hall” virando “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” em busca de um duvidoso "sucesso".

domingo, 17 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2

Atenção: Só leia este texto se você já assistiu ao filme.

Há dez anos, lembro-me perfeitamente. Era novembro de 2001, quando em uma tarde de várzea como eram quase todas naquele tempo, zapeava a TV procurando em vão, algo de bom para assistir. Eis que num programa vespertino qualquer, daqueles em que com certeza eu não era o público alvo, estavam falando sobre as estréias da semana nos cinemas. Uma delas era Harry Potter e a Pedra Filosofal. Naquela época, a fama dos livros já era enorme e eu, do alto dos meus 12 anos achava tudo uma baboseira, sem jamais ter tido um pingo de vontade de ler, ou mesmo ver o tal filme que viria. “Magia? Um menino bruxo? Que coisa mais besta!” Eis que assisto um trecho do tal filme. Uma cena. Foi o que bastou para me fisgar. Uma aula de vôo, ministrada por Madame Hooch. A partir daquele momento não sosseguei enquanto não assisti ao filme. Depois disso, li todos os livros que já haviam sido lançados, e acompanhei toda a evolução da série. Era simples diversão, jamais imaginaria que ao chegar ao final, fosse mexer tanto comigo.
 Harry Potter e as Relíquias da Morte parte 2 começa exatamente onde o anterior terminou, sem introduções. Sem nem mesmo a trilha sonora imortalizada de John Williams que abriu todos os filmes até aqui. Ao invés dela, um coro de vozes, já anunciando a melancolia que tomaria conta de todos. Mas os acordes de Williams estão presentes a todo momento, tocados de várias formas, encaixando entre as composições de Alexander Desplat, que desta vez se supera, com uma trilha muito superior ao filme anterior, com destaque para o momento emocionante em que feitiços são lançados para proteger a escola. O inicio, com diálogos tranqüilos e lentos, servem como preparação, quase que como um tempo para que os atrasados entrem no cinema. Com 5 minutos de projeção, a aventura começa, e sem interrupções, estejamos prontos ou não. Mas 10 anos é tempo o bastante para se preparar. Foi isso, aliás, o que passou na minha cabeça durante todo o filme. A sensação de que finalmente aquilo estava se resolvendo, o sentimento de que depois de tanto tempo, as coisas estavam acontecendo, e eu estava me despedindo daquelas pessoas que cresceram comigo. Só isso para explicar os olhos marejados com um beijo súbito, de um casal que vi se formar. 
 Mas este não é um filme com foco em romances. É um filme cruel, que pouco lembra a magia infantil dos primeiros. Corpos para todos os lados, crianças sendo mortas por lobisomens. É um filme de guerra. Em dado momento, Harry anda devagar por Hogwarts, e o chão está coberto de livros destruídos, nos lembrando que em algum momento, aquilo era uma escola, e não um campo de batalha. 
 Dizer que esta ou aquela cena são sensacionais seria chover no molhado, pois o que vemos é um show de imagens, efeitos especiais que deverão receber todos os prêmios possíveis, uma direção de arte fantástica, fotografia marcante, tudo aquilo que esperamos de uma produção com qualidade técnica impecável. Mas há uma sequência de cenas em especial, que quase me fez levantar da cadeira para aplaudir. Uma cena aliás, que é fruto da coragem e imaginação do diretor David Yates e do roteirista Steve Kloves, que eu já havia salientado ano passado. Harry entrando no salão principal, confrontando Snape, a Ordem chegando, e McGonagall dando show. Minerva McGonagall sempre foi uma de minhas personagens favoritas, e aqui chegou seu momento. Quando ela empurra Harry e confronta Snape, o homem que matou seu amigo Dumbledore. Protegendo o garoto que, sabemos, não é apenas um aluno pra ela. Sabemos que foi ela quem deixou Harry na casa dos Dursley quando ele ainda era um bebê. Foi ela quem deu a Harry uma Nimbus 2000. Ela tinha uma afeição pelo garoto, mas sempre manteve a postura rígida de professora ríspida. Nesse momento, McGonagall se entrega.  “É bom ver você, Potter”. E se diverte: “Eu sempre quis usar este feitiço”. E aí preciso dizer: Maggie Smith, SUA LINDA!
  Falando nos melhores personagens, chegou também a vez de Snape. Depois de anos sendo de longe a melhor interpretação em todos os filmes, Alan Rickman mais uma vez é o destaque, mas agora mostrando um Snape diferente. Um Snape que chora. Todas as cenas em que Rickman está presente, sua dualidade chega a assustar, de tão perfeita. Personagem e ator em sintonia perfeita. Perceba quando McGonagall toma a frente de Harry, como ele hesita, mas segue em frente, dando um jeito de matar os irmãos Carrow, para depois fugir de forma espetacular. As cenas que formam sua lembrança também merecem ser lembradas. A fotografia dessaturada da lugar a cores em abundancia, mostrando que aquele homem já foi feliz algum dia, e a montagem excepcional nos conta a história triste do personagem. Se Alan Rickman tivesse morrido antes de o filme estrear, o Oscar seria dele.
 As adaptações de Yates e Kloves funcionam na maioria das cenas, deixando a desejar apenas em algum momento, como a batalha final entre Potter e Voldemort, que no livro é muito mais emocionante. Aliás, emoção não pareceu ser o foco deste filme. O que mais senti falta foi um abraço entre Harry e Rony. Quando Harry se prepara para entrar na floresta, Hermione se despede dele, com lágrimas merecidas, mas e Rony? Faltou um abraço dos dois amigos, e é esse o motivo que não me deixa dar nota 10. O final nostálgico me pegou de surpresa. Esperava uma catarse de choro e despedida, mas ela não veio. 
 Contudo, pode-se dizer sim, que este é o melhor filme da série, que fez jus a tudo que acompanhamos nesses 10 anos, junto com Harry e seus amigos, “até o fim”.

 Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2  ***** 9,5
Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2, Reino Unido
David Yates, 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Um Novo Despertar

Fui ao cinema assistir a “Um Novo Despertar” fazendo algo que adoro, mas que hoje em dia é dificílimo: não sabendo absolutamente nada sobre o que ia ver. Tinha visto um pôster, li que foi muito bem recebido em Cannes e só, nem a sinopse conhecia. Por isso foi tão interessante acompanhar a transformação que o protagonista sofre. Já no primeiro take, vemos Mel Gibson completamente despido de vaidade, com um travelling que o filma da cabeça aos pés, exibindo rugas e uma barriguinha considerável, deixando de lado a imagem de homem charmoso que exibia há poucos anos. Gibson interpreta Walter Black, um empresário que está imerso em uma depressão profunda, como nos diz um narrador que ouvimos apenas três vezes no filme, justamente marcando três fases do personagem. Walter chega ao fundo do poço ao sair de casa, deixando mulher e filhos, quando tenta suicídio. Nessa divertida cena especificamente, após levar um tombo segurando um fantoche de pelúcia em forma de um castor, um movimento de braço e uma exclamação me fizeram pensar: “que legal, parece até que foi o Castor que falou.” E aí é que está a mágica de não saber nada do filme e nem mesmo assistir trailers. O castor de pelúcia FALA! Ou quase isso.
A sinopse seria perfeita para uma comédia, mas não espere por uma. Sim, é impossível não rir em diversas cenas que são absurdas por serem protagonizadas por um homem segurando um boneco, mas confesso que eu fiquei é extasiado com o desempenho de Mel Gibson. Seja nos diálogos que protagoniza consigo mesmo, ou em passagens onde está ofegante, e o Castor também aparece ofegante. Em uma cena, ao abaixar a mão onde segura o Castor, Gibson muda completamente a expressão. Do sorriso à tristeza em um movimento, indicação ao Oscar?  Mas “The Beaver” fala sobre depressão, e vai fundo. O sofrimento, a solidão mesmo estando rodeado de gente, a vontade de ficar eternamente em uma cama, tudo está ali, em cada expressão de Walter. Em dado momento um personagem diz: “Depressão é um buraco negro que o puxa para dentro”, metáfora que depois é ilustrada literalmente, nas cenas em que o filho do protagonista bate com a cabeça na parede (!) até fazer um buraco nela (sempre em cenas noturnas).
Jodie Foster como diretora usa e abusa dos closes, focando em cada marca do Mel Gibson e dela própria. Mas o excesso que me incomodou, foi o de cenas comparativas entre pai e filho. Numa tentativa de mostrar que o filho adolescente é parecidíssimo com o pai, várias passagens dizem a mesma coisa, martelando algo que na abertura do filme já havíamos entendido. Funciona muito melhor com o filho caçula (bem mais talentoso que o mais velho), numa simples mordida no lábio, discreta e valiosa.
O roteiro do estreante Kyle Killen, além de um estudo sobre a depressão, é uma crítica à sociedade. Prega que digamos a verdade na cara das pessoas, mesmo que seja dolorida. Faz chacota com livros de auto-ajuda, e brinca com o comportamento habitual da modernidade. Como exemplo me vem à cabeça uma frase que adorei: “Vamos limpar a garagem para sujar a cozinha”. Corajoso, surpreendente, e sincero. Isso até chegar o terceiro ato. Sabe quando você está adorando um filme, e aí apenas uma cena DESTRÓI tudo o que ele construiu? Quando um roteirista escreve um texto inteiro te dizendo uma coisa, para no finzinho fazer exatamente o oposto? Pois é, Kyle Killen critica, mas no último momento, transforma um filme bonito, numa bobagem de auto-ajuda, típico de sessão da tarde. Saí do cinema revoltado.

Um Novo Despertar *** 6,0
The Beaver, EUA
Jodie Foster, 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Velozes & Furiosos 5 - Operação Rio

Repare no pôster. Em uma rápida pesquisa no Google, pode-se perceber uma coisa diferente entre este e o dos outros quatro filmes. Em todos os cartazes até aqui, além dos atores, o destaque sempre são os carros. Neste, a primeira coisa que vemos são armas, e isso diz muito. Quando “Velozes e Furiosos” estreou em 2001, atingiu em cheio ao público jovem, apaixonado por carros, mostrando o submundo dos rallys clandestinos e popularizou o tuning no Brasil (sim, ele é o responsável por hoje você ver um Fiat Uno com neon e adesivos gigantes e ter vontade de chorar). Ao faturar mais de cinco vezes o seu custo, estavam abertas as portas para uma nova franquia, e para dezenas de filmes com temas parecidos que pipocaram nos anos seguintes, nenhum deles promissor. Seguiram-se filmes ruins e sem o carisma dos protagonistas do primeiro. A única coisa que todos tinham em comum eram “carros” como tema principal e assaltos ao fundo, quando agora o que temos é um filme de assaltos, com alguns carros ao fundo.
Para compensar a falta do automobilismo – o único “pega” acontece com mais de uma hora de projeção, e é o mais sem graça de toda a franquia – o que se vê é uma reunião de personagens secundários de todos os filmes anteriores, somados ao trio de protagonistas e uma coleção de referências. Vin Diesel sempre foi o principal nome do elenco. Com inquestionável presença em cenas de ação, ele já não tem a mesma forma física de dez anos atrás, e dessa vez conta com um oponente do seu tamanho, Dwayne Johnson (o antigo “The Rock”) num personagem vazio, mas que funciona. Particularmente, sempre me encantei com a beleza de Jordana Brewster, e neste filme ela não se limita em ser a irmã de Dominic, mas fala português sem sotaque, exibe uma barriguinha de grávida e corre favela abaixo como ninguém (não dá vontade de levar pra casa?).
Jordana balançada com meu convite
Velozes 5 se passa no Rio de Janeiro, mas é um Rio feio e pobre, um contraponto com a animação “Rio”, lançada no mesmo mês, que traz o outro lado da moeda. Aliás, o fato de se passar no Rio de Janeiro realmente foi algo que agradou o roteirista, nunca vi tantas vezes o nome de uma cidade ser repetida dessa forma. A impressão que se tem é de que temos que ser lembrados a todo instante que aquilo é o Brasil, e não os Estados Unidos. O que nos leva a uma cena lamentável, onde Vin Diesel diz a um policial com um sorriso maroto: “This is BRASIL”, e instantaneamente todos os civis que estavam no local tiram uma arma do bolso. Outra questão que sempre se levanta quando filmes estrangeiros são gravados por aqui é: por que não contratar alguns atores locais para papeis secundários? Neste filme, os americanos tentando falar português deve ter ficado tão ruim, que resolveram dublar as cenas, ao menos é melhor que ouvir aquele sotaque vindo de um “nativo” (ressalto o português Joaquim de Almeida, que além de bom ator, disfarça perfeitamente seu sotaque).
O grande destaque deste filme é a boa execução das cenas de ação. Por mais que o roteiro não ajude e traga uma situação mais bizarra que a outra - sendo difícil acreditar, por exemplo, em um cofre que é carregado pela cidade inteira, ou dois homens que caem de um penhasco sem nada sofrer, ou uma mulher grávida de semanas virar praticante de le parkour pela favela, isso para não comentar a cena de abertura. Até agora estou tentando entender como ninguém se feriu naquele ônibus, mas divago – é indiscutível o talento do diretor Justin Lin nas cenas de perseguição. Intercalando planos abertos e fechados, nos deixando entender tudo que está acontecendo, e com o auxilio de ótimos efeitos especiais, as cenas são fantásticas (destaque para a perseguição da favela e a do cofre).
Depois de dez anos e cinco filmes, finalmente a franquia conseguiu alcançar o que todas as obras tentam. É sucesso de público e crítica, garantindo ao menos mais uma continuação. Para tanto, foi necessário perder um pouco da essência, deixar os carros de lado, esquecer os beijos lésbicos gratuitos, e fazer os pilotos virarem atiradores.

Obs: Há uma importante cena pós créditos com mais duas personagens dos primeiros filmes.

Velozes & Furiosos 5 - Operação Rio *** 7,0
Fast Five, EUA
Justin Lin, 2011

domingo, 1 de maio de 2011

Micro-críticas #06

Rio

Já faz muitos anos que as animações deixaram de ser apenas infantis. Muito disso se deve a Pixar que sempre consegue achar o meio termo entre divertir crianças e adultos em uma junção de diálogos inteligentes com o humor fácil de entender. E lá se vão 15 anos do lançamento de Toy Story (não errei a data, você está velho mesmo).
Rio chega aos cinemas com uma proposta diferente, definitivamente é uma animação para crianças, e agrada o público alvo. Bonitinho, engraçadinho, com personagens carismáticos e cheio de cor. Para conquistar os adultos, o diretor Carlos Saldanha apostou em um filme visualmente lindo, e conseguiu, não há como negar a beleza das imagens perfeitas do Rio de Janeiro. Não contente em apenas “mostrar” o Rio como um lugar maravilhoso (até a favela é linda), faz propaganda da cidade. Chegando ao cúmulo de num último e embaraçoso musical, dizer com todas as letras: “Venha para o Rio!”. Parece um grande vídeo publicitário para atrair turistas (repare que a primeira vez em que o nome da cidade é mencionado, imediatamente aparece um globo terrestre, identificando a localização do país para os estrangeiros menos informados), o que me faz pensar que “Rio” é um filme bonitinho, mas ordinário. (Carlos Saldanha, 2011) *** 7,0

Sobrenatural

Um casal com três filhos pequenos acaba de mudar-se para uma casa nova, mas ela parece estar mal assombrada. Já vimos isso antes, muitas vezes, mas não sejamos apressados. Sempre que assistimos a um filmes com essa premissa, logo no primeiro ato pensamos: “Por que não saem logo dali?” Pois é, quase levantei da cadeira para aplaudir quando a família realmente se muda, como qualquer pessoa com cérebro faria.  Mas o problema não era a casa. Agora sim podemos dizer que no mínimo é original, mas não só isso. “Sobrenatural” flerta com o trash e por ter um roteiro com algumas invencionices acaba se tornando didático, mas definitivamente, ARREPIA. (James Wan, 2011) **** 7,5

Eu Sou o Número Quatro

Nove crianças são as únicas sobreviventes de um planeta chamado Lórien, e são enviadas à Terra, criadas separadas e fazem-se passar por seres humanos. Eis que a mesma espécie invasores que devastou seu país, os Mogadorians, está por aqui para destruí-los também. Três foram mortos, mas Josh Smith é o número quatro, TANDÃÃÃ! Tá bom, todos concordam que é meio bizarro, mas esta é a nova franquia que pretende conquistar esta geração. O problema é que se você acha que o tal número quatro vai apresentar uma grande resistência e sair matando todo mundo, está enganado. Primeiro porque o confronto demora a ocorrer, afinal há a preocupação de apresentar os personagens e encher a tela com perguntas, que não se respondem até o fim do filme, mostrando claramente que é apenas um primeiro capítulo dessa nova “saga”. Depois porque Josh nem sabe dos poderes que tem, e vai descobrindo aos poucos.
Apesar de ser abarrotado de clichês e apresentar muitos problemas, como a narração desnecessária e um vilão que daria muito mais medo se não falasse, mesmo assim consegue divertir. (D. J. Caruso, 2011) *** 5,5

Pânico 4

Dez anos depois de sua última aparição, Ghostface volta a dar as caras e dá também novo fôlego a esta franquia peculiar. A trilogia Pânico usava e abusava da auto-paródia com sucesso, mas foi declinando desde sua estréia com o ótimo primeiro exemplar, depois uma sequência muito boa, e um encerramento razoável.  
A abertura deste filme é com absoluta certeza uma das melhores de todos os tempos do terror, e tem tudo que o ele simboliza. É inteligente, ágil, engraçado, crítico e assusta.
Tem o final mais surpreendente e mais orgânico entre todos os quatro, mais divertido entre todos os quatro, e no conjunto, com certeza melhor que Pânico 2 e 3. (Wes Craven, 2011) **** 8,5

Thor

Depois de um primeiro ato desastroso, pensei comigo: “Calma, vai melhorar”. Mas não aconteceu. Serei breve: Efeitos ruins, o filme parece ser feito 90% no computador. Diálogos ruins, prepare-se para coisas super inovadoras como “Por que você não me contou?” R:”Para te proteger!”. Roteiro ruim, o protagonista vem à Terra para aprender uma lição, fica dois dias por aqui, tem um caso e volta “um outro homem”, como se tivesse aprendido muito com as “dificuldades”. Aliás, toda a trama que se passa na Terra é absolutamente sem sentido. Um amor que surge do nada, piadas soltas que tentam deixar o filme atual, e personagens sem graça.
Não fossem as atuações, principalmente do protagonista Chris Hemsworth e a ótima trilha sonora, seria um horror completo. (Kenneth Branagh, 2011)  * 3,0

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Micro-críticas #05

Cópia Fiel

Depois de uma longa e maçante cena de abertura, aos poucos vamos conhecendo Elle (Juliette Binoche, soberba) e James (William Shimell). Ela uma francesa, dona de uma loja de antiguidades, que mora na Itália com seu filho. Ele, escritor inglês de sucesso que visita a Itália para lançar seu novo livro, onde defende que uma obra de arte não perde ou ganha valor ao ser uma cópia ou o original. Ele defende que o valor está no olhar de quem vê, na sua interpretação.
Tudo vai razoavelmente bem, quando numa cena impagável em um café, TUDO muda. Esqueça tudo que eu disse no parágrafo anterior. Não vou contar o que acontece, porque acho que você, caro leitor, merece ficar tão embasbacado quanto eu. Merece como eu, passar o resto do filme tentando entender aquilo tudo. Mais do que o durante, você sairá do filme, ainda remoendo aquela loucura.
Afinal, era uma mentira desde o início? Virou um jogo de interpretações a partir do meio? Ou dane-se, afinal, não importa o que é, mas sim o que você vê e sente. (Abbas Kiarostami, 2011) **** 8,0

Turnê

Mathieu Amalric, protagonista do fantástico “O Escafandro e a Borboleta” aparece aqui não apenas atuando, mas também dirigindo. O ex-produtor de televisão Joachim traz um grupo de dançarinas burlescas americanas para uma turnê na França. Apresentações que se dividem entre o belo e o bizarro, mas nunca deixam de ser divertidas; mulheres lindas sim, aos seus modos; belas atuações de Miranda Colclasure como Mimi Le Meaux e do próprio Amalric. Infelizmente, o filme segue mais como um retrato do ambiente em que vivem estes artistas, e não contém, ou não explora, uma real problemática. Fica aquele gostinho de que falta alguma coisa, além de toda a ousadia. (Mathieu Amalric, 2011) **** 8,5

VIPs

Baseado no livro “VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso”, em que Marcelo do Nascimento conta como levou a vida mudando de nomes e se fazendo passar inclusive por um dos donos da companhia aérea Gol, dando até mesmo entrevistas à televisão, o filme de estréia do diretor Toniko Melo é divertido. Aliás, só por trazer Wagner Moura como protagonista já valeria o ingresso, e ele é claro, dá um show. Montagem eficiente e cenas de se gargalhar com culpa. É uma pena que o filme se concentre basicamente em duas histórias, quando sabemos que Marcelo aprontou muito mais. (Toniko Melo, 2011) **** 7,0

Jogo de Poder

Fui assistir a “Jogo de Poder” sem nem mesmo ter lido a sinopse. Sean Penn tem essa moral, qualquer coisa que ele faça merece ser vista, e sua parceria com Naomi Watts se revela encantadora, perfeitos. Depois de ser massacrado com quarenta minutos de siglas sendo vomitadas para todos os lados, e uma câmera que parecia estar sendo segurada por uma criança, o filme engrena e fica bom. Pra mim foi interessante, aos poucos, perceber que aquela história absurda, de uma agente da CIA e seu esposo, um diplomata americano, serem esculachados pelo governo Bush apenas para justificar seu ataque ao Iraque, serem reais. O diretor Doug Liman faz questão de usar imagens verídicas de entrevistas e pronunciamentos do governo para percebermos que aquilo realmente aconteceu, e funciona. É realmente uma pena que a primeira metade seja tão ruim. (Doug Liman, 2011) *** 7,0

O Discurso do Rei

Após a morte do pai e a renúncia do irmão, o rei George VI se vê obrigado a discursar para multidões. Possuindo um grau altíssimo de gagueira, é levado pela mulher (Helena Bonham Carter) a procurar tratamento com um especialista (Geoffrey Rush). Um trabalho fantástico de Colin Firth, que mereceu o Oscar de melhor ator, mas o filme não aconteceria sem o brilhantismo de Geoffrey Rush. Direção de arte caprichada, montagem correta e...e é isso. “O Discurso do Rei“ tem tudo no lugar, certinho, bonitinho, angustiante em alguns momentos, mas nada de mais. Melhor filme do ano? Esses americanos estão todos loucos mesmo. (Tom Hooper, 2011) **** 8,5

terça-feira, 8 de março de 2011

127 Horas

Até onde você iria para salvar sua vida? Até que ponto vão a coragem e a força de um homem ao tomar uma grande decisão? A vida é feita de escolhas e nós todos sabemos disso, mas escolher entre sua vida, ou parte do seu corpo não é algo que fazemos todos os dias.  Mas foi essa a escolha que Aron Ralston teve que fazer. O alpinista americano estava em uma de suas aventuras nos cânions de Utah, sem ter avisado a ninguém aonde iria, quando sofreu um acidente e ficou com o braço preso em uma rocha, no meio das montanhas. Ali começa seu dilema, que dura 127 Horas, até que ele finalmente escolhe seu destino. Você faria o mesmo?
 A premissa já lhe avisa de antemão que será um filme claustrofóbico, angustiante e incômodo, e quando entramos na sala estamos preparados para isso, mas o diretor e roteirista Danny Boyle (Quem quer ser um milionário?) não parece confiante de que o público esteja pronto para tanto. Ao invés de um filme intimista e pequeno (como o superior Enterrado Vivo), Boyle transforma, ou tenta transformar 127 Horas num filme grandioso e para isso não mede esforços. O principal exemplo é a montagem frenética, que divide a tela em três em vários momentos, e faz inserções de comerciais antigos de refrigerante como pensamentos do protagonista, chegando ao cúmulo do “I wanna be cool!”.
Boyle não se limita a fazer o correto e óbvio nos enfoques de câmeras. Os planos abertos no início do longa, dão lugar a planos fechados e closes angustiantes, e no meu ver, esse deveria ser o formato de todo o filme, mas não para este diretor que insiste em ser pop. Há closes até mesmo de dentro do cantil, insistindo em nos mostrar o que Aron está bebendo para causar repulsa. Mas quando acha que o filme está ficando sério e triste demais, levamos um susto com uma música alegre e a voz de um radialista que nos comunica feliz, que é segunda-feira. Ora, se eu que estou aqui livre, não suporto felicidade numa segunda de manhã, imagino o coitado do rapaz. Aproveitando o momento para ilustrar o constante bom humor e também os devaneios de Ralston, que começa a encenar um programa de entrevistas, sou jogado para fora do longa ao ouvir risadas ao fundo, de uma platéia fictícia. Desnecessário.
Como já disse, as diversas lembranças e alucinações soam como escapes, de quem não confia na força do material que tinha em mãos, e como se já não bastasse, ainda somos brindados com uma cena em que a ex-namorada diz: “Você ficará tão só” em meio a uma briga, nos querendo convencer do que? Que era uma praga dela? Que ele teria feito por merecer? Triste.
E quando você pensa que o carismático James Franco vai bater na mesa e nos mostrar que estava ali não por ser uma escolha jovem e moderninha, mas que tinha talento a mostrar e nos entregaria uma atuação fantástica, não nos surpreendemos. Franco não é ruim, mas também não justifica tantos elogios.
Apesar de tantos esforços para estragar tudo, 127 Horas está longe de ser um filme ruim. Competente em nos mostrar o amor que o protagonista sentia por aquele lugar, chocante e triste na medida certa nas cenas finais, e com a ajuda de uma fantástica trilha sonora, é sim um bom filme. O final clichê com as letrinhas explicando o futuro, e o aparecimento do real Aron Ralston é quase o melhor do filme. Algo que em boa parte da projeção eu fiquei inquieto para ver logo e que não me arrependi. O filme acaba, as pessoas saem felizes por terem visto um lindo clipe, e eu e mais meia dúzia de pessoas com coração ficamos lá arrasados e chorando litros.
Sobre aquele pergunta que eu havia feito no início do texto, prefiro não responder, tenho medo do que poderia me acontecer.

127 Horas **** 7,5
127 Hours, EUA
Danny Boyle, 2011

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha



O filme conta a história de Raquel Pacheco, garota de programa que ficou famosa e... a menos que estivesse numa ilha deserta nos últimos anos, acho que você conhece a história, então vou pular o resumo.
Fui à sessão de “Bruna Surfistinha” aberto a qualquer coisa, sem preconceitos de nenhuma espécie, sem esperar que fosse bom, ou ruim, e é mediano. Inicialmente o filme falha ao tentar demonstrar qual teria sido a motivação de Raquel para fugir de casa e se tornar uma garota de programa. O que vemos é que ela não tem uma boa relação com a família (?) e que é deslocada na escola, mas nada que justifique tal atitude, mesmo que ela repita que queria ser independente durante todo o tempo.
Num segundo momento, ao enfocar na vida de Raquel como prostituta, e sua transformação gradual em Bruna, é onde o filme brilha. Engraçado, chocante, desconcertante, e claro no que se propõe. (Perceba a cena em que diretor estreante Marcus Baldini opta por mostrar vários clientes seguidos, através de um travelling. Ao mesmo tempo em que é cômica pelos tipos esquisitos, realista com as sujeiras no chão, e elucidativa por mostrar a rotina sem cortes aparentes, nos dando a impressão que eram atendidos um logo após do outro.) Mais tarde, com o advento do blog, gadjets são inseridos na tela, com observações e cotações para os clientes atendidos, encaixa perfeitamente.
No campo das atuações, Deborah Secco mostra uma entrega à personagem, deixando o pudor de lado, com cenas se sexo quase explícito (sim, se você espera um filme sobre prostituta sem cenas fortes de sexo, nem se dê ao trabalho), uma beleza monumental e uma ótima atuação. Fabiula Nascimento e Drica Moraes são os destaques dos coadjuvantes, roubando as cenas em que aparecem.  
No 3º ato, tudo o que se construiu ao longo do filme é jogado no lixo. Na tentativa de encontrar um ápice para o final, não convence e se mostra inverossímil em muitos momentos, não nos apresenta o tal homem que a tirou deste mundo e encerra com uma cena bobinha, querendo ser tocante. A sensação que se tem ao sair da sala de cinema é de decepção, pensando: “estava indo tão bem...”.

Bruna Surfistinha *** 6,0
Bruna Surfistinha, Brasil
Marcus Baldini, 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Apostas para o Oscar 2011 - Vencedores


Acertei 16 dos 21 palpites

MELHOR FILME: O Discurso do Rei
MELHOR DIRETOR: David Fincher | A Rede Social - Tom Hooper | O Discurso do Rei
MELHOR ATOR: Colin Firth | o Discurso do Rei
MELHOR ATRIZ: Natalie Portman | Cisne Negro
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Christian Bale | O Vencedor
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Melissa Leo | O Vencedor
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: O Discurso do Rei
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: A Rede Social
MELHOR MONTAGEM: A Rede Social
MELHOR FOTOGRAFIA: Bravura Indômita - A Origem
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: A Origem - Alice no País das Maravilhas
MELHOR FIGURINO: O Discurso do Rei - Alice no País das Maravilhas
MELHOR TRILHA SONORA: A Origem - A Rede Social
MELHOR CANÇÃO: We Belong Together | Toy Story 3
MELHOR MAQUIAGEM: O Lobisomem
MELHOR EDIÇÃO DE SOM: A Origem
MELHOR MIXAGEM DE SOM: A Origem
MELHORES EFEITOS VISUAIS: A Origem
MELHOR ANIMAÇÃO: Toy Story 3
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Trabalho Interno
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: Em um Mundo Melhor | Dinamarca

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lixo Extraordinário

Se Pedro Bial pudesse lhe dar um conselho para vida, seria: “Use filtro solar”. Se eu pudesse lhe dar um conselho para a sua próxima semana de vida, seria: Vá assistir Lixo Extraordinário! Filmado ao longo de  pouco mais de dois anos – 2007 a 2009 – o documentário, indicado ao Oscar de 2011, acompanha Vik Muniz, artista plástico brasileiro com grande reconhecimento fora do país, que resolve fazer um trabalho envolvendo o maior aterro sanitário da América Latina, localizado no Rio de Janeiro. A proposta de Muniz é transformar lixo em arte, utilizando ajuda dos trabalhadores locais, divulgando assim a vida dos catadores como forma de devolver um pouco para a sociedade, todo o sucesso que alcançou.
Dispense os preconceitos. Não é um documentário chato. Não é um longa que agradará apenas os intelectualmente superiores, seja lá o que isso queira dizer. E não, não é um filme sobre lixo, mas sobre pessoas e sobre arte. Lixo Extraordinário é lindo, esbanja brasilidade e deveria ser obrigatório.
Aos poucos, vamos conhecendo melhor este grande artista e as pessoas que encontra no caminho, e como não se encantar e se surpreender com Zeus e Tião, catadores que discutem Nietzsche e Maquiavel? Isso mesmo, livros encontrados no lixão são lidos, e pasmem, entendidos. Oportunidade dada às pessoas erradas? Quem sabe... Como não se emocionar com um senhor de idade “sem primeiro nem segundo grau” como ele diz, dando uma aula de conscientização e meio ambiente, algo que tento fazer com pessoas de curso superior, e falho miseravelmente? Aliás, fazia tempo que não me emocionava tantas vezes no cinema. Seja por uma mãe que perde um filho, por um homem que não se contém de tanta alegria, ou por perceber que aquelas pessoas que trabalham atoladas no lixo são felizes e isso realmente mexer comigo. Muniz comenta que sua obra mais famosa, “Sugar Children”, reflete a falta que a doçura do açúcar fazia nos pais das crianças que ele retratava num canavial, mas nesse caso não era no Brasil. Aqui, o artista plástico se depara com gente que teria todos os motivos do mundo para viver de cara amarrada, mas não exita em abrir um largo sorriso.
Não se engane, Lixo Extraordinário está longe de ser um filme triste. Gargalhei por diversas vezes, afinal, o bom humor também é típico da nossa gente. Não se surpreenda ao descobrir que catadores divertem-se tentando adivinhar a sua classe social pelo que você joga no lixo, suas correspondências, ou mesmo pelo tipo de saco plástico que usa.
Como se não bastasse, além dos personagens reais fantásticos, um filme que se passa no lixão consegue ser visualmente lindo. É impressionante como de um ângulo correto, com a câmera e a luz certas, qualquer coisa pode ficar realmente linda, como esta fotografia, como arte.  Para completar, a eficiente montagem traz imagens de arquivo pessoal de Vik Muniz, e dois trechos de entrevistas do Jô Soares, que inicialmente me deixaram confuso e desacreditado, mas ao término do filme, tudo é quase perfeito.
Sei que não é papel de crítico indicar ou não um filme. Mas não ouso me chamar de crítico de cinema, e nesse texto, nem mesmo aspirante a tanto. Escrevo apenas como um admirador da sétima e das outras artes, apenas gritando aos quatro ventos para os meus amigos e para aqueles que visitam este espaço: "CORRÃO", eu sei que vocês irão gostar!
E por favor, reciclem a embalagem do filtro solar.

Lixo Extraordinário ***** 9,5
Waste Land, Brasil/Reino Unido
Lucy Walker, 2011 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Vencedor


Filme de luta? Não. Baseado em uma história real, O Vencedor é sobre uma família. Uma família destruída pelo vício de um dos filhos em crack (Bale) e que deposita toda sua esperança na carreira do filho mais novo como lutador (Wahlberg), já que as outras SETE irmãs não parecem fazer muita coisa além de fofocarem o dia todo.  A dinâmica desta família, invadida por uma namorada briguenta, é o que move este ótimo filme, de atuações espetaculares.
Mark Wahlberg fica apagado no meio tantos bons coadjuvantes, não por culpa do ator, que entrega uma atuação enxuta e correta, mas sim pelo personagem.  Apesar de ser o protagonista, Micky não tem a complexidade dramática dos outros, e é retratado como um homem desacreditado e sem voz ativa. Nos poucos momentos em que toma as rédeas da situação, como quando consegue o número de telefone de uma garçonete, Wahlberg enche a tela com seu sorriso, o mesmo sorriso do garoto que conhecemos em Diário de um Adolescente e Boogie Nights.
Melissa Leo está muito bem como a mãe sofrida e que sonha com o sucesso dos filhos, ainda que eu prefira Amy Adams de namorada autoritária, que troca as mega expressões de Leo por um rosto sempre sério, com as lágrimas brigando para não cair. “Às vezes menos é mais.”
Christian Bale chama a atenção em todas as cenas em que está presente, da abertura ao encerramento, trazendo a hiperatividade, o bom humor e a cara da decadência de um viciado. Um homem que vive repetindo nas palavras e mesmo a encenação, de seu maior momento de glória (e a ótima montagem intercala as duas passagens demonstrando o grande contraste). Mais magro do que nunca, chega a ser difícil acreditar que aquele homem frágil e desdentado é o Batman, mesmo que já o tenhamos visto fisicamente parecido no ótimo e esquecido O Operário. Assim, além da atuação perfeita e de se revelar um bom cantor em duas passagens, o ator ainda estampa na cara a vontade e a entrega de um apaixonado por sua profissão. Há como o Oscar não ser dele? Impossível.
Ao término da luta final, os dois irmãos se agacham no canto do ringue, e conversam algo. Algo que não ouvimos, que pertencia apenas a eles.

O Vencedor **** 9,0
The Fighter,
David O. Russel, 2011
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